segunda-feira, abril 30, 2007

O fingidor

A malha aperta-se, a viagem sobe a novas alturas.

Porque será Fernando Pessoa o poeta tema da próxima sessão da Tertúlia de Poetas de Sintra (17 de Maio, em Colares), iremos ao longo do mês de Maio deixar-vos uma breve selecção da poesia do nosso génio literário.

Esperamos que gostem.

Em toda a sua complexidade e esplendor imaginativo, a obra pessoana é um encontro com a língua portuguesa, completando um arco simbólico que começa com Luís de Camões, e culmina com Fernando Pessoa.

A seguir (em Junho) já sabem, vem Camões, bardo da nacionalidade, e o momento final desta viagem (por agora).



Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que ele não tem.

E assim nas calhas de roda,
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

(in Cancioneiro)

quinta-feira, abril 26, 2007

Praça com Livros...

... no Atrium Chaby, em Mem Martins, que é cada vez mais um poiso habitual para diversos autores de Sintra e eventos relacionados com o livro.

Uma iniciativa de sucesso, que o Traço Comum se orgulha de apoiar.

domingo, abril 22, 2007

Um Tempo de Cata-sol

Hoje (2ª), Dia Mundial do Livro, será apresentado o novo livro da escritora e artista plástica Maria Almira Medina, com o título "Um Tempo de Cata-sol". Sob a chancela editorial da Editora Casa das Cenas, o lançamento irá ter lugar no Atrium Chaby, em Mem Martins, pelas 21h15.

Poetisa de referência no nosso concelho, e colaboradora activa nesta iniciativa desde os seus primeiros passos, é justo dizer que o trabalho e obra de Maria Almira Medina dispensam apresentações para as gentes de Sintra. Da sua obra poética constam títulos como "Distância" (1944), Madrugada (1956), Sem Moldura (1996), para além da participação em antologias várias.

Temos por isso o enorme prazer convidar a todos para estarem presentes nesta data especial.

Deixo-vos como aperitivo o poema "À beira do mar da infância", publicado na obra "Sem Moldura".



À beira do mar da infância

Agora que estou sentada
à beira do mar da infância
deixem-me pôr o meu laço
nos cabelos do meu espaço
enleado na distância

O trajecto da inocência
assim a brincar na praia
foi marcado pelo laço
p'lo vestido de cambraia
e p'lo rosto duma ausência

Em vez de seixos guardei-a
na dobra do meu vestido
na trajectória sonhei-a
vive comigo essa ausência
esse rosto sem sentido

(Maria Almira Medina, Sintra, 1996)

quarta-feira, abril 18, 2007

Ser poeta


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente... 
É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!

(Florbela Espanca)