segunda-feira, abril 30, 2007

O fingidor

A malha aperta-se, a viagem sobe a novas alturas.

Porque será Fernando Pessoa o poeta tema da próxima sessão da Tertúlia de Poetas de Sintra (17 de Maio, em Colares), iremos ao longo do mês de Maio deixar-vos uma breve selecção da poesia do nosso génio literário.

Esperamos que gostem.

Em toda a sua complexidade e esplendor imaginativo, a obra pessoana é um encontro com a língua portuguesa, completando um arco simbólico que começa com Luís de Camões, e culmina com Fernando Pessoa.

A seguir (em Junho) já sabem, vem Camões, bardo da nacionalidade, e o momento final desta viagem (por agora).



Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que ele não tem.

E assim nas calhas de roda,
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

(in Cancioneiro)