Estradas
Por giestas, tojo e trevo
um dia abandonei-me. A medo,
nagiesta roçar a espádua,
e no tojo a pele dos artelhos.
Dor, mágoa nesse caminho,
um dia seco entre montes.
Alcantilado amarelo,
crua miragem, passei
crente do amor e alma
que haviam de jorrar
para os inocentes.
Mas quem me dava
inocência ou magia?
Quem me conduzia
em caminhos de soleiras
de casa a casa vivas,
entre a giesta e o tojo?
Só o trevo me salva
da cega dor. Delíquio
entre flores minhas
que na Primavera
recobrem toda a estrada.
Eu vi, andei, e o meu pacto
de andar caminhos pobres
mais pobre foi no tojo.
Mais belo, alto, na giesta
o corpo consolou-se
e aceitou essa via
ao longo da estrada amarga.
(in Cenas Vivas, Lisboa: Relógio d'Água, 2000)